A melhoria da qualidade de vida das mulheres dentro do programa "Santo Andrй Mais Igual" estб entre as dez melhores prбticas no mundo, de acordo com o Habitat-ONU, braзo das Naзхes Unidas para Polнticas de Assentamentos Humanos. Santo Andrй, na regiгo do Grande ABC, й a ъnica cidade do Brasil a conquistar o prкmio nesta ediзгo. A entrega acontece no dia 3 de novembro na cidade de Dubai, nos Emirados Бrabes Unidos. Os outros paнses que tiveram prбticas contempladas foram Argentina, Alemanha, Benin, Canadб, China, Нndia, Lнbano e Namibia.
O Prкmio Internacional Dubai de Melhores Prбticas para a Melhoria das Condiзхes de Vida й bienal. O projeto vencedor da Prefeitura de Santo Andrй tem o nome de Gкnero e Cidadania no Programa Santo Andrй Mais Igual, e tem como proposta a melhoria da qualidade de vida das mulheres.
A premiaзгo corresponde a 30 mil dуlares para cada cidade, alйm de um trofйu e um certificado. Os projetos tidos como "melhores prбticas" passam a integrar um banco de dados, cujas informaзхes sгo compartilhadas com outras entidades internacionais. Neste ano, foram encaminhados 544 projetos desenvolvidos em 90 paнses.
A melhoria da qualidade de vida das mulheres e uma preocupaзгo antiga em Santo Andrй. Comeзou a ser pensada como uma polнtica publica em 1989 na primeira administraзгo de Celso Daniel na cidade, quando foi criada a Assessoria da Mulher. A questгo de Gкnero foi introduzida em 2000 no Programa Integrado de Inclusгo Social (hoje rebatizado de Santo Andrй Mais Igual).
Investir na qualidade de vida das mulheres, promover a igualdade de direitos e gerar condiзхes para que a mulher, principalmente a de baixa renda, enfrente os problemas causados pela exclusгo social sгo as principais propostas do programa de Gкnero e Cidadania. Para tanto sгo organizados cursos de capacitaзгo profissional, campanhas de combate а violкncia domйstica, cursos sobre sexualidade, entre outros. Na maioria das vezes essas aзхes sгo realizadas em conjunto com outros programas da Prefeitura, como o Renda Mнnima, Incubadora de Cooperativas e o Saъde da Famнlia.
Dentro do Santo Andrй Mais Igual, estes programas ganham ainda mais forзa na medida em que a reflexгo sobre as relaзхes de gкnero vem acompanhada de aзхes concretas de melhoria na qualidade de habitaзгo, nas novas alternativas de trabalho que sгo construнdas e no aumento da auto-estima que leva a uma nova perspectiva de vida.
O Programa Integrado de Inclusгo Social de Santo Andrй foi criado em 1998 e jб beneficiou diretamente 3,6 mil famнlias, melhorando a qualidade de vida, com acesso a polнticas sociais, ao trabalho e renda e, principalmente, a efetivaзгo dos direitos de cidadania. No plano de gestгo, sua grande conquista e a integraзгo e aplicaзгo simultвnea dos 18 programas e projetos de combate a exclusгo. Podemos citar, por exemplo, a Incubadora de Cooperativas, a Urbanizaзгo Qualificada de Favelas, o Banco do Povo, a Alfabetizaзгo de Jovens e Adultos, entre outros.
Cidadania, igualdade e mudanзa de vidas
Mudar o rumo da vida a partir do conhecimento dos seus direitos. Essa й a decisгo de muitas mulheres de Santo Andrй apуs participarem dos programas com enfoque na questгo de Gкnero promovidos pela Assessoria dos Direitos da Mulher.
Dentro do Programa Santo Andrй Mais Igual, estes programas ganham ainda mais forзa na medida em que a reflexгo sobre as relaзхes de gкnero vкm acompanhadas de aзхes concretas de melhoria na qualidade de habitaзгo, nas novas alternativas de trabalho que sгo construнdas e no aumento da auto-estima que leva a uma nova perspectiva de vida.
A descoberta da igualdade de direitos entre homens e mulheres й um verdadeiro tesouro para muitas delas. "Atй descobrir que homens e mulheres sгo iguais em direitos minha vida era um medo sу", afirma Valdenora Pedrosa de Lima. "Eu achava que devia atender a todos os desejos e ordens do meu marido, a vida toda", conta essa cearense de Pique Carneiro, cidade na regiгo da Grande Fortaleza.
A descoberta dos direitos levou Valda, como й conhecida no Nъcleo Habitacional de Capuava, a assumir uma nova postura diante do marido, da famнlia e do mundo. A dona de casa, de 42 anos, conta que, depois das reuniхes, aprendeu a ser "independente".
"Antes do curso, por medo ou sei lб o que, tinha que consultar meu marido para tudo", relata. Temas que antes eram proibidos dentro de casa passaram a ser discutidos livremente com a filha de 17 anos.
Valda chegou em Santo Andrй hб 19 anos e foi direto para Capuava. "Fui educada para aceitar tudo. Aqui em casa, por exemplo, sу quem gritava era ele. Eu abaixava a cabeзa, chorava pelos cantos. Hoje eu grito tambйm. Nгo sou mais aquela que ficava caladinha e enxugava as lбgrimas", sorri Valda.
A educaзгo familiar dessa lutadora foi das mais rнgidas. Nascida em uma famнlia de 16 filhos, passou a infвncia e a adolescкncia ouvindo que as mulheres deveriam acatar sem a menor resistкncia todas as ordens dos homens. "Quando meus irmгos me batiam eu nгo podia revidar", conta ela.
Caso tivesse alguma reaзгo teria que acertar as contas com o pai, o que sempre acabava em uma nova surra.
"Apanhбvamos de arreio de vaca", lembra Valda. Ela conta que hoje em dia devolve todo desaforo que recebe, seja dentro de casa seja fora. "Na hora de dar conselho para as amigas eu sempre digo: nгo abaixe a cabeзa nunca", esbraveja.
O programa de Gкnero e Cidadania conseguiu proezas dentro das бreas atendidas. Muitas mulheres ganharam uma nova visгo do mundo, inclusive na hora de educar os filhos.
Aзхes conjuntas de saъde e gкnero sгo reforзadas pelo atendimento de saъde, que й domiciliar, dando suporte nas situaзхes vivenciadas com a famнlia, especialmente no que se refere ao acompanhamento do crescimento dos filhos.
Com o apoio do Crianзa Cidadг e Sementinha - dois outros programas -muitas mulheres ganharam uma nova visгo de mundo, inclusive na hora de educar os filhos.
Maria do Socorro da Silva, 49 anos, conta que passou a tomar mais cuidado na educaзгo dos filhos. "Com esse mundo virado do jeito que estб eu ficava muito nervosa com qualquer desvio das crianзas", afirma.
"Eu ficava nervosa e acabava batendo neles". Apуs passar pelos cursos ela diz ter descoberto uma nova forma de educar. Agora ela coloca os trкs filhos adolescentes de castigo sem ver televisгo.
"Filho nгo foi feito para bater. Se vocк bate no seus filhos, eles vгo achar isso normal e vгo querer bater nos outros aн pela rua", analisa Socorro.
Ela diz que hoje em dia dб a receita para suas amigas que tкm problemas semelhantes. "Isso que eu aprendi eu passo para qualquer pai e qualquer mгe", relata essa pernambucana nascida na divisa das cidades de Buique e Arcoverde.
Atualmente, sua famнlia de seis pessoas anda com problemas financeiros. O marido estб desempregado hб dois anos e meio. Para sobreviver, ela vende cocadas para os moradores de Capuava. "Antes eu ficava preocupada com esse tipo de coisa", desabafa. A ajuda financeira inicial vinda do Renda Mнnima e a capacitaзгo dada pelo Empreendedor Popular mudaram sua atitude diante da vida. Hoje, ela arregaзa as mangas e sai feliz da vida em busca do sustento da famнlia.
Socorro consegue ganhar por mкs cerca de R$ 200 com a venda das suas cocadas. "Para tudo tem uma saнda. E sу a gente parar e pensar", opina ela.
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